Após os violentos protestos em Washinton DC, incluindo a tomada do Capitólio dos Estados Unidos, várias plataformas sociais proibiram o presidente do país de postar. Inicialmente num curto prazo, mas algumas redes já se manifestaram estendendo o tempo de bloqueio.
Trump, que questionou repetidamente a validade dos resultados das eleições, que elegeram Joe Biden, usou a audiência do Congresso de ontem para pedir que seus apoiadores se dirigissem ao edifício do Capitólio para mostrar apoio a ele. Buscando, de alguma maneira, convencer os senadores a inverter a eleição a seu favor.
Ele tem enviado várias mensagens pedindo que seus apoiadores “lutem por Trump”. Mensagens que podem não ter a intenção de ser um apelo literal à ação, mas “a retórica e a natureza desesperada da mensagem de Trump, que sugeriu que esta é uma ‘última resistência’ para a democracia, claramente levou seus apoiadores ao frenesi. E, como resultado, quando a certificação não foi do seu jeito, eles recorreram à violência para mostrar seu ponto de vista” – escreveu Andrew Hutchinson, gerente de conteúdo e mídias sociais, em sua análise para o Social Media Today.
Em meio ao caos, onde quatro pessoas morreram, o Capitólio foi saqueado, senadores evacuados ou isolados em segurança, líderes de todos os lados pediram para que Trump acalmasse a multidão com uma declaração oficial demonstrando apoio aos resultados eleitorais e ao próximo presidente, Biden. Trump apenas divulgou uma declaração em vídeo, na qual continuou a questionar a validade do resultado das eleições.
De acordo com Hutchinson, essa foi a gota d’água para as plataformas sociais, após muitos apelos para que agissem.
O que se seguiu foi:
O Facebook removeu várias postagens de Trump durante os distúrbios e em seguida anunciou que havia tomado a decisão de banir o presidente Trump de sua plataforma por 24 horas, citando várias violações de política em suas postagens. E hoje o CEO do Facebook, Mark Zuckerberg, anunciou que o banimento da conta de Trump seria estendido “indefinidamente e pelo menos pelas próximas duas semanas” para garantir uma transição pacífica para o governo Biden.
O Instagram também bloqueou a conta de Trump por 24 horas e bloqueou a hashtag #StormTheCapitol. O Instagram, como propriedade do Facebook, também seguirá a proibição indefinida da empresa-mãe e deixará a conta de Trump bloqueada por, pelo menos, as próximas duas semanas.
O Twitter também adicionou avisos e removeu vários tweets de Trump durante o incidente, antes de anunciar que a conta de Trump seria bloqueada por 12 horas como resultado dos tweets ofensivos – “Se os Tweets não forem removidos, a conta permanecerá bloqueada“.
O Snapchat bloqueou a conta do presidente Trump. A plataforma já havia limitado o alcance da conta de Trump no início do ano, mas o presidente postava regularmente no aplicativo para manter contato com seu público.
O YouTube anunciou que vai restringir qualquer canal que poste vídeos contendo desinformação sobre os resultados das eleições de 2020, uma ação que se estenderá aos canais oficiais Team Trump.
Trump tem atualmente mais de 32 milhões de seguidores no Facebook e 88 milhões no Twitter.
Apesar de suas críticas recentes às mídias sociais em geral, Trump citou repetidamente o alcance das plataformas sociais como um facilitador para sua vitória nas eleições de 2016. Em 2017, em uma entrevista à Fox Business, ele disse que duvidava que teria chego à presidência se não fosse pelas redes sociais, onde ele entende que pode lidar pessoalmente com postagens a seu respeito, tem um canal direto, para declarar o que quiser sem alguém redigindo o texto, enfim, ter mais controle.
O ponto é que agora ele perde essa capacidade, ou a tem bastante reduzida – algo que, de acordo com o Social Media Today, já havia sido sugerido anos atrás, já que repetidamente ele violou os termos do Twitter, por exemplo, com seus posts durante a presidência.
Mas, até agora, todas as principais mídias sociais hesitaram em tomar essa atitude drástica. Afinal, ele é o atual presidente dos Estados Unidos, eleito pela maioria do Colégio Eleitoral em 2016, e a abordagem das plataformas era de que, como tal, o público tem direito de ouvir o que ele tem a dizer. O que as mídias fizeram foi buscar equilibrar esse caráter de informação com a responsabilidade das empresas em controlar o que é distribuído por meio de suas plataformas, aplicando rótulos de alerta de desinformação, por exemplo.
Agora, a decisão de suspender e banir as contas de Trump é significativa. Apesar de alguns preverem que ele provavelmente enfrentaria proibições em algum momento, não se esperava que isso acontecesse antes mesmo dele deixar o cargo. Claro, os banimentos são temporários e em breve ele deve recuperar o controle de suas contas, mas esse momento marca um passo significativo para as plataformas sociais. Cabe a reflexão de como elas são usadas, a lembrança de que são empresas privadas, com acordos de termos e política de uso, e como devem ser abordadas situações semelhantes no futuro, inclusive para evitar que se chegue novamente numa situação como esta.