Pesquisadores estão compilando milhares de fotos de pessoas usando máscaras para melhorar os algoritmos de reconhecimento facial. O portal CNET encontrou milhares de selfies com máscaras faciais disponíveis em bancos de dados públicos, com fotos tiradas diretamente do Instagram.
Com o aumento do número de pessoas usando máscaras devido à pandemia da COVID-19, empresas de reconhecimento facial estão buscando treinar seus algoritmos para que suas ferramentas possam identificar e detectar pessoas usando esse item de proteção, já que as máscaras cobrem uma parte significativa do rosto – ameaçando o futuro de uma indústria multimilionária.
Em março desse ano, pesquisadores da China compilaram um banco de dados com mais de 5.000 fotos mascaradas coletadas online, um mês depois foi publicado o COVID19 Mask Image Dataset no Github, usando mais de 1.200 imagens coletadas do Instagram.
Wafaa Arbash, a CEO da WorkAround – criadores desse último estudo – explicou que eles usaram sua ferramenta de Inteligência Artificial (AI) para “vasculhar” as imagens e rotulá-las entre com ou sem máscara: “Fomos inspirados por todas as empresas que lançavam ferramentas gratuitas e tudo o que podem fazer para ajudar. Temos essas imagens públicas do Instagram, portanto não são privadas. Estávamos apenas pesquisando e obtendo os dados certos”.
Há muito tempo que empresas de reconhecimento facial usam imagens das pessoas sem consentimento para treinar seus algorítimos, o que os defensores da liberdade civil afirmam ameaçar a privacidade e a liberdade de expressão. Porém, esses mesmos alertam que praticamente não existem leis que impeçam o uso das ferramentas de vigilância.
Alguns provedores de reconhecimento facial passaram a pedir que seus funcionários enviem selfies com máscara facial, e também passaram a editar máscaras em cima das fotos que eles já têm. Porém, existe um limite de funcionários que uma empresa pode pedir para tirar selfies, e as fotos editadas com as máscaras podem não ser tão eficazes quanto as imagens orgânicas para algoritmos de treinamento. Além de que as empresas de reconhecimento facial também precisam de um conjunto diversificado de imagens para que os algoritmos possam reconhecer melhor pessoas de diferentes características físicas, idades e uma variedade de tipos de máscaras.
Segundo Arbash, da WorkAround, as fotos para o banco de dados público de sua empresa vieram de pesquisa no Instagram com hashtags relacionadas a máscaras. Eles coletaram cerca de 3.000 fotos da plataforma, mas reduziram para um conjunto de 1.200 fotos. As pessoas incluídas não sabem que estão nesse banco de dados, e a empresa não pediu permissão às mesmas, mas alegou que, se quiserem ser excluídas, podem tornar suas páginas privadas, uma vez que eles não armazenam as fotos, e sim provém links para imagens no Instagram.
“O objetivo e a intenção era ajudar todos os engenheiros de data science ou machine learning que estão trabalhando para corrigir esse problema e ajudar na segurança pública”. “Não estamos lucrando com isso, não é comercial”, disse Arbash.
De acordo com o CNET, os links para as imagens do Instagram expiraram desde então, mas a página do banco de dados fez uma chamada pública perguntando se alguém sabia como recuperar as fotos. Arbash disse que, se houver interesse suficiente, a empresa consideraria estudar mais como obter mais imagens de máscaras faciais.
Claro que, para os desenvolvedores, é urgente criar a tecnologia de detecção de máscara facial como uma preocupação de segurança pública, mas problemas éticos surgem quando as imagens são coletadas sem o consentimento. O consultor sênior do Projeto Constituição, Jake Laperruque, disse que “As pessoas podem não gostar da ideia de que sua imagem possa ser usada para desenvolver um banco de dados que possa ir para aplicação da lei ou vigilância governamental em um país autocrático estrangeiro como a China. Você está publicando fotos, talvez não com uma expectativa de privacidade, mas você tem uma expectativa de como ela pode e não pode ser usada.”
O Facebook emitiu um comunicado afirmando que não permite “que terceiros colecionem ou usem fotos postadas por nossos usuários dessa maneira, sem o consentimento deles. Continuamos a investigar isso“.
Fonte: CNET
Comments