Novos arquivos internos da empresa foram divulgados ontem, incluindo relatórios de pesquisa, comentários de funcionários, insights sobre experimentos e muito mais – muito mais.
O The Verge fez um comentário sobre pontos que eles destacaram, chamado “Oito coisas que aprendemos com os Facebook Papers – O lançamento massivo de um novo documento mostra o caos e a confusão dentro da rede social mais poderosa do mundo“, que pode ser uma leitura bastante interessante de “resumo mais aprofundado” do que está acontecendo. O Protocol fez uma lista de links para as principais reportagens, vazamentos e um pouco da cronologia do que está acontecendo. E é possível assistir o comparecimento da denunciante do Facebook, Frances Haugen, ao comitê do parlamento do Reino Unido em alguns lugares, como nesse vídeo da Reuters. (textos e vídeo em inglês)
De uma forma um pouco mais breve vamos comentar aqui sobre as análises do Social Media Today e Axios, que elencaram alguns pontos principais:
O Facebook tem dados que apontam que sua base de usuários está envelhecendo, que o número de jovens que se inscrevem na plataforma está diminuindo cada vez mais (especialmente nos EUA) e mesmo que tem gradualmente perdido contato com esse público, com o tempo que os adolescentes norte-americanos gastam FB caindo 16% ano a ano desde 2019 – ou seja, a plataforma está lutando para atrair usuários com menos de 30 anos.
O Facebook tem dificuldade em policiar informações em muitos países, principalmente porque não tem nem suporte para o idioma local em muitas regiões, o que permitiu que uma linguagem inflamatória florescesse na plataforma. Foi descoberto que a empresa usou um “sistema de camadas” não muito claro para minimizar dados em alguns países, mas não em outros – e alguns desses lugares sem proteção são países onde justamente houve violência civil e distúrbios.
Na verdade, o Facebook tem dificuldade para policiar conteúdo que leva à radicalização de uma forma geral, com relatórios acusando a empresa de não ter um plano claro de como lidar com o conteúdo deslegitimando os resultados eleitorais nos EUA, por exemplo, ou para conter afirmações perigosas que levaram ao motim do Capitólio em 6 de janeiro, com vários funcionários sugerindo que deveriam estar mais bem preparados para isso, mas a administração muitas vezes atrasava ou evitava decisões.
E ainda relacionado a essa questão está toda a conversa sobre a saúde mental dos usuários das plataformas sociais, e de como elas têm dificuldades em lidar com essa situação. Inclusive, um relatório mostra que o Facebook discutiu sobre ocultar o botão “Curtir”, para aliviar a pressão sobre os usuários, mas acabou decidindo não fazê-lo em para preservar o envolvimento do usuário.
Relatórios sugerem que o Facebook não conseguiu impedir o uso de suas plataformas para o tráfico de pessoas (um problema que quase fez com que seus aplicativos fossem removidos da App Store em 2019) e que na verdade ainda está lutando com questões relacionadas ao tráfico humano em suas plataformas.
No meio desses pontos ocorrem várias acusações de que os executivos do Facebook priorizam regularmente o crescimento em detrimento da segurança, apesar das evidências de riscos significativos e que vários funcionários expressaram suas preocupações de que a plataforma estava causando danos e mas que pouco é feito para melhorar.
O vice-presidente da empresa já havia feita comentários relacionados aos vazamentos, e sua visão é de que o Facebook é apenas parte do que está acontecendo na sociedade, e não o problema central. A questão é que esses novos documentos mostram que, no mínimo, o Facebook está ciente de que pode estar contribuindo para esses elementos e tem dificuldade de encontrar uma maneira de abordar cada um deles. Há quem vá mais fundo e diga que, na verdade, a empresa não tem interesse em agir por medo de que mudanças possam sufocar o crescimento do usuário e, eventualmente, prejudicar os resultados financeiros.
Fato é que o Facebook tem uma escala e influência enormes e o impacto desses elementos acima colocados segue a mesma proporção. À medida que as informações são sendo divulgadas e pessoas passam a procurar soluções devemos ver mais conversas a respeito disso tudo.